quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O que é Ler?

por Claudia Muniz
A leitura transforma o homem; leve-se em conta que só o homem tem a capacidade de criar símbolos (letras) para expressar seus sentimentos, ao lado de tantos outros recursos que ele pode utilizar. Embora muitas vezes as palavras sejam poucas para explicitar realmente o que sentimos no âmago de nossa existência, e ao escrevermos parece nos faltar algo que complete e reflita exatamente aquilo que nos habita, ainda sim a palavra formada por variados símbolos são a representação possível da fala humana. Ao decifrar os códigos (símbolos) que outros escrevem, passamos a fazer parte do mundo do outro, passamos a ocupar um espaço no outro que antes era só dele, e que ao escrever sobre ele mesmo ou criar algo fictício, passamos a conviver com os pensamentos, sentimentos e vivência do outro. Por mais que seja ficção a história narrada, algo de experiência de vida é colocado, então dessa forma aprendemos com o outro também. A leitura leva o leitor a conhecer os recônditos mais entranhados do escritor, através dela viajamos no pensamento do outro, se ele narra algo do Nepal, é para lá que vamos, se ele cita a Babilônia, conhecemos sua arquitetura, sua sociedade, enfim... A leitura enriquece a vida do homem!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu amo meu país!

por Claudia Martins Muniz
Eu amo o Brasil. Nasci aqui, num tempo em que os horários da falta de televisão eram preenchidos com brincadeiras de todos os tipos na rua, eram brincadeiras felizes. Ali, aprendíamos a dividir, a ver o mundo de maneira mais ampla, a discutir questões polêmicas, a compreender o espaço do outro. Nas brincadeiras de rua, aprendíamos a respeitar os limites do amigo, porque quando não o fazíamos, éramos colocados para fora do jogo. Os relacionamentos que se estabeleciam, ora se firmavam por toda nossa infância ora nos mostravam que tipo de pessoa nós não gostaríamos de chamar de amigo. Aprendíamos na rua; quando um amigo se esquecia de um brinquedo seu, porque no meio da brincadeira a mãe o chamara para comer algo ou ir para o banho; que tipo de pessoa seríamos, porque tínhamos que nos decidir por entregar ou não o brinquedo a ele. Sem perceber, tomávamos decisões importantes para o nosso desenvolvimento em meio à sociedade.
Então me lembro de quando meu pai comprou a primeira televisão da rua. Eu e meus amigos mais próximos tínhamos horário para brincar, e por volta das 16h corríamos até minha casa para ver os Flinkstones. Foi uma época de deslumbramento. Foi uma época de emoções novas. Lembro-me vagamente das novelas que eram exibidas; mas dos Flinkstones, lembro-me que o horário marcado era sagrado, as sensações eram de extrema felicidade. O tempo ainda me bate no rosto como se fosse hoje, era época de inverno rigoroso, e minha mãe preparava, naquele horário, bolinhos de chuva ou biscoitinhos para que pudéssemos tomar o lanche da tarde. Foi um tempo feliz! Violência, esta passava tão longe de nós que quando acontecia algo muito violento, ou era um burburinho para que não soubéssemos nunca ou ficávamos sabendo muito tempo depois.
Como escritora eu poderia falar sobre qualquer assunto a partir dessas lembranças. Mas atribuo à vinda da televisão e a desestrutura da educação, o que infelizmente podemos ver hoje, em tempo real, acontecendo nesse país tão amado por mim, com relação à violência. Fico de longe, lendo uma informação aqui outra ali, e quase nem sinto vontade de saber a fundo o que realmente está acontecendo no Rio de Janeiro, por exemplo. Não quero saber o que a televisão, enquanto o mundo desaba lá fora, mostra dentro de nossas salas nas novelas, de maneira ilusória, o mesmo Rio de Janeiro: mulheres lindas em trajes de banho, praias limpas, romances que sempre terminam na cama, amores impossíveis que se tornam possíveis num clique. Fico perplexa!
Fico perplexa ainda, quando de manhã ao me dirigir ao trabalho, ligo o rádio e a mesma emissora de rádio que repete incansavelmente o slogan “Todos pela educação”, coloca um quadro de humor se referindo ao fatídico dia em que um helicóptero da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi abatido por traficantes de alguma comunidade. A conversa entre “pai e filho” gira em torno do que pede de presente o filho ao Papai Noel: uma arma de última geração, “porque você acha pai que se são os bandidos que estão ganhando eu vou querer um soldadinho? eu vou é querer o presente que se refere a quem está por cima, uma arma de última geração” sorri e encerra a piada de mau gosto.
A partir disso fico pensando como um jovem ou uma jovem que vai para a escola de barriga vazia, mas que tem lá em casa uma tevê LCD ou LED, seu Ipad, ou mp15 e ouve essas baboseiras todas, vai ter paciência de ficar nas aulas e ouvir conteúdos. Como? Eles se perguntam? Se seus sonhos e esperanças estão lá fora? A mídia diz que eu posso ser modelo; eu posso ser um esportista, é fácil; posso ter casas lindas; minha vida, se eu fizer um casamento rico, vai ser muito linda; Se o pobre da novela tem casa linda, por que eu não tenho? As questões vão muito além das irrealidades pregadas com tanta tranquilidade pela mídia.
As três últimas décadas foram marcantes no cenário do país. A queda do regime militar, a instituição da democracia, a possibilidade da participação das mulheres no mercado de trabalho, o ingresso de um maior número de jovens nas universidades, a forte presença do Brasil no quadro internacional se tornou concreta. Porém todas essas mudanças vieram acompanhadas de problemas que já existiam, mas que vieram à tona de maneira exacerbada: o crescimento das desigualdades sociais, de uma abissal divisão de renda, do fortalecimento do crime organizado, da criação de uma legião de excluídos sociais nas principais cidades brasileiras, trouxe como resultado a violência que aumentou em nossa sociedade, aumentando também as estatísticas crescentes de furtos, homicídios, sequestros e outros crimes mais ou menos hediondos, envolvendo indivíduos de todas as classes sociais.
Então em minhas reflexões sobre todos os problemas tão gritantes na questão da violência, é se a educação pode ser o remédio contra o crescimento da criminalidade. Busco dentro de mim, como educadora e em minhas leituras sobre o tema, e encontro sempre um “sim”. O que já é um bom começo, porém a maioria dos especialistas afirma que “desde que haja uma transformação na linha pedagógica e no próprio processo de ensino, e que a própria educação seja utilizada não apenas como uma forma unilateral de se transmitir conhecimento, mas de formar cidadãos. Conforme dizem os pesquisadores, dar às crianças e jovens acesso contínuo à educação, é um dos fatores que diminuem as estatísticas de criminalidade e reduzem a incidência (ou reincidência) de casos de violência de qualquer espécie”. Os especialistas são unânimes também afirmando que ela sozinha não resolve todos os problemas.
O pesquisador do Crisp/UFMG (Centro de Estudos de Criminalidade da Universidade Federal de Minas Gerais), Robson Sávio Reis de Souza, afirma que "A educação é fundamental na melhora da qualidade de vida de um indivíduo, mas não pode ser considerada um elemento redentor. Existe uma percepção errada em nossa sociedade de que, quando todo o resto falha, a escola tem de resolver. A maioria dos casos de violência dentro das escolas reflete apenas um problema trazido de fora". Robson afirma ainda que "várias pesquisas apontam para coincidências entre indivíduos vulneráveis sócio-economicamente e a violência. Existe um senso comum de que pobre é violento, e isso se exacerba, sobretudo com quem tem problemas de moradia, saneamento básico e educação". São muitas as afirmações relacionando o aumento da violência à desestrutura educacional, porém a escola é somente mais um cenário, pois a violência está disseminada na sociedade, já é cotidiana. A educação para atuar como elemento corretivo desse quadro, precisa estar encaixada dentro de políticas públicas estruturadas, que envolvam mais que educação, em que às pessoas lhes seja permitido o acesso à saúde, ao trabalho, à cultura e ao esporte. A educação sozinha não dá conta da violência. As pesquisas mostram que a escola é apenas o reflexo da própria comunidade em que está instalada.
Há muito que fazer, são situações pequenas que vão muito além do controle da escola, o trabalho é muito mais abrangente, há desestrutura no contexto familiar, no contexto social, o trabalho tem que começar em casa. A participação dos pais no controle do acesso dos filhos a programas televisivos que promovem a violência, no acesso a jogos que apresentam a violência como um meio de extravasar, no acesso à internet e suas redes sociais, e os cuidados com as próprias relações dentro de casa, e na vida em comunidade dessas famílias é extremamente necessário. Cada atitude dos pais e pessoas próximas dos jovens são exemplos que se cristalizam dentro deles e que levarão por toda vida adulta.
Portanto é preciso estar sempre atentos, pois como adultos coerentes que somos devemos sempre dar aos nossos jovens, sejam filhos, parentes ou alunos, muito bons exemplos para que tenham uma vida futura sem violência.